O mês oito do calendário parece ter sido feito de régua e esquadro no que toca ao tamanho dos dias, temperatura e oportunidades de fazer valer-lhe o nome “a gosto”. Quando a ciência parece ter sido aplicada a quase tudo no mês de agosto, é quando o amor vem suavizar fronteiras e tirar a lógica à distância. O nosso querido mês de agosto traz de volta caras conhecidas e abraços saudosos; um português com palavras novas e carros com matrículas diferentes a todas as vilas deste país. Já não há lugares de sobra à mesa. Agosto é tão bom que do seu oito, gostávamos de fazer o infinito.
Na digestão de tudo isto, trazemos ao nosso Livro de Honra uma das nossas emigrantes de perdição – a nossa Xi, oficialmente conhecida por Inês Ferreira. Conhecemos a Inês há muitas milhas atrás, quando ir para fora estava longe dos planos. Num momento, em que quase tudo o que aconteceu estava longe, menos o sonho de cantar.
A Inês tem 30 anos e viveu em Vila Nova de Gaia desde sempre, perto dos pais e da irmã. Fã da música e da representação, enquanto terminava o secundário na Escola Artística Soares dos Reis, ia fazendo o curso de Teatro Musical na Academia de Música de Vilar do Paraíso. O plano sempre foi seguir este caminho. Em 2010, candidata-se às provas para ingressar na área a um nível superior, tanto no Porto como em Lisboa. Falhou os testes dois anos seguidos.
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Apesar da simpatia e do calor das pessoas boas que conheceu na cidade fria, a Inês não ficou mais do que três meses em Bragança. Sabia bem que o seu sonho tinha outra morada.
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Como para muitos, a principal barreira inicial que muitos emigrantes encontram na chegada a outro país é a língua. No caso da Inês, as dificuldades no inglês só vieram comprovar a atriz promissora que já era na altura…
As provas correram tão bem que a Inês chegou a ser aceite em três escolas, em Londres, tendo optado pela Italia Conti Academy of Theatre Arts, onde estudou Teatro Musical. Apesar das saudades de casa e das diferenças entre Inglaterra e Portugal, o grupo de colegas multicultural que encontrou na licenciatura tornaram a adaptação ao novo país mais simples.
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Pela natureza do trabalho e a duração dos contratos, a Inês não tinha a oportunidade de passar o mês de agosto em Portugal há vários anos. O clima, a comida e as pessoas são quase sempre a santíssima Trindade de quem regressa para férias.
Atualmente, a Inês vive em Portugal, com o namorado, e assume que cá é a sua morada, porque é onde estão os que lhe fazem mais falta. Mas não põe de parte a hipótese de voltar ao estrangeiro, caso a felicidade lhe sorria noutro apartado postal.
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Estas foram apenas algumas das peripécias da Inês enquanto emigrante, numa tentativa do Projeto Serra lembrar mais um dos ofícios dos portugueses: esta capacidade de rumar ao desconhecido, apenas orientados pelo sonho. Há tantos emigrantes portugueses pelo mundo e haveria tantas histórias bonitas para contar, mas hoje brindamos à Inês e a quem, como ela, partilha com o mundo a sua voz e boas intenções. Sem medida, mesmo assim, a gosto.